terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Novo livro de Márcia Sanchez Luz


Editora Protexto lança Quero-te ao som do silêncio!, livro de sonetos de Márcia Sanchez Luz, prefaciado pelo jornalista Caio Martins e quarta capa com comentários de Leila Míccolis, Rogel Samuel, Graça Graúna, Marco Bastos, Jorge Sader Filho e Airo Zamoner.



"Márcia trata a forma poética como artesã, dominando materiais e ferramentas nos limites das potencialidades. Entalha e esculpe, pinta e tece sem esforços, lapida e compõe em ritmo impecável, como que em métrica de cadência sinfônica.

Há que ter, todavia, inteligência e sensibilidade para deles auferir dimensões humanas tênues e vitais, pois Márcia torna-se, pela límpida criatividade e autonomia, numa referência para quem vive significados intensamente.

E nos chega suavemente e sem alaridos, transcendendo a mera alegoria e revelando, aliciente e plena, até do mais corriqueiro, a Poesia. "Quero-te ao som do silêncio!" é um convite a partilhar desse encantamento."

Caio Martins


Capa: imagem do quadro "Despida de Gravidade", do artista plástico Gustavo Saba, gentilmente cedida pelo autor.

Para adquirir o livro, clique na capa ou acesse o site da Editora.

sábado, 27 de novembro de 2010

Cartola, no moinho do mundo


Carlos Drummond de Andrade
(In Jornal do Brasil, 27.11.1980)

A crônica a seguir, de Carlos Drummond de Andrade, é um tributo ao compositor Angenor de Oliveira, o Cartola (1908-1980). Foi publicada no Jornal do Brasil em 27/11/1980, três dias antes da morte do criador de "As Rosas Não Falam".


Você vai pela rua, distraído ou preocupado, não importa. Vai a determinado lugar para fazer qualquer coisa que está escrita em sua agenda. Nem é preciso que tenha agenda. Você tem um destino qualquer, e a rua é só a passagem entre sua casa e a pessoa que vai procurar. De repente estaca. Estaca e fica ouvindo.

Eu fiz o ninho.
Te ensinei o bom caminho.
Mas quando a mulher não tem brio,
é malhar em ferro frio.

Aí você fica parado, escutando até o fim o som que vem da loja de discos, onde alguém se lembrou de reviver o velho samba de Cartola; Na Floresta (música de Sílvio Caldas).

Esse Cartola! Desta vez, está desiludido e zangado, mas em geral a atitude dele é de franco romantismo, e tudo se resume num título: Sei Sentir. Cartola sabe sentir com a suavidade dos que amam pela vocação de amar, e se renovam amando. Assim, quando ele nos anuncia: “Tenho um novo amor”, é como se desse a senha pela renovação geral da vida, a germinação de outras flores no eterno jardim. O sol nascerá, com a garantia de Cartola. E com o sol, a incessante primavera.

A delicadeza visceral de Angenor de Oliveira (e não Agenor, como dizem os descuidados) é patente quer na composição, quer na execução. Como bem me observou Jota Efegê, seu padrinho de casamento, trata-se de um distinto senhor emoldurado pelo Morro da Mangueira. A imagem do malandro não coincide com a sua. A dura experiência de viver como pedreiro, tipógrafo e lavador de carros, desconhecido e trazendo consigo o dom musical, a centelha, não o afetou, não fez dele um homem ácido e revoltado. A fama chegou até sua porta sem ser procurada. O discreto Cartola recebeu-a com cortesia. Os dois convivem civilizadamente. Ele tem a elegância moral de Pixinguinha, outro a quem a natureza privilegiou com a sensibilidade criativa, e que também soube ser mestre de delicadeza.

Em Tempos Idos, o divino Cartola, como o qualificou Lúcio Rangel, faz o histórico poético da evolução do samba, que se processou, aliás, com a sua participação eficiente:

Com a mesma roupagem
que saiu daqui
exibiu-se para a Duquesa de Kent
no Itamaraty.

Pode-se dizer que esta foi também a caminhada de Cartola. Nascido no Catete, sua grande experiência humana se desenvolveu no Morro da Mangueira, mas hoje ele é aceito como valor cultural brasileiro, representativo do que há de melhor e mais autêntico na música popular. Ao gravar o seu samba Quem Me Vê Sorrir (com Carlos Cachaça), o maestro Leopold Stockowski não lhe fez nenhum favor: reconheceu, apenas, o que há de inventividade musical nas camadas mais humildes de nossa população. Coisa que contagiou a ilustre Duquesa.

* * *

Mas então eu fiquei parado, ouvindo a filosofia céptica do Mestre Cartola, na voz de Sílvio Caldas. Já não me lembrava o compromisso que tinha de cumprir, que compromisso? Na floresta, o homem fizera um ninho de amor, e a mulher não soubera corresponder à sua dedicação. Inutilmente ele a amara e orientara, mulher sem brio não tem jeito não. Cartola devia estar muito ferido para dizer coisas tão amargas. Hoje não está. Forma um par feliz com Zica, e às vezes a televisão vai até a casa deles, mostra o casal tranqüilo, Cartola discorrendo com modéstia e sabedoria sobre coisas da vida. “O mundo é um moinho...” O moleiro não é ele, Angenor, nem eu, nem qualquer um de nós, igualmente moídos no eterno girar da roda, trigo ou milho que se deixa pulverizar. Alguns, como Cartola, são trigo de qualidade especial. Servem de alimento constante. A gente fica sentindo e pensamenteando sempre o gosto dessa comida. O nobre, o simples, não direi o divino, mas o humano Cartola, que se apaixonou pelo samba e fez do samba o mensageiro de sua alma delicada. O som calou-se, e “fui à vida”, como ele gosta de dizer, isto é, à obrigação daquele dia. Mas levava uma companhia, uma amizade de espírito, o jeito de Cartola botar em lirismo a sua vida, os seus amores, o seu sentimento do mundo, esse moinho, e da poesia, essa iluminação.

Carlos Drummond de Andrade





O Mundo é Um Moinho
Cartola
11.10.1908 - 30.11.1980

Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho.
Vai reduzir as ilusões a pó

Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Crônica de Rubens da Cunha


OURIÇOS

O ouriço é um bicho poético por natureza porque parece intocável. Há nele a alegoria perfeita de que tudo tem, no mínimo, dois lados, duas possibilidades de olhar. O ouriço e suas costas cheias de pelos-espinhos, o bicho capaz de se enrodilhar e virar uma bola de agressão, de dor, de medo para quem chega perto, é o mesmo bicho macio e delicado, um bicho frágil, angustiado por sua condição dupla: espinho e candura.

Muitas pessoas são assim, ouriçadas. Obviamente algumas se tornaram apenas espinhos, sem dentro, sem espaço macio, mas outras não, outras carregam nas costas o peso dolorido da vida, e mal ou bem, passam adiante esse peso, mas também tem uma elegância, uma vontade de serem mais leves, menos secretas em suas qualidades.

Somos rasos por natureza, nos apoiamos muito nas aparências, então ao vermos um ouriço só vemos seu externo, seu perigo, pouco vemos o dentro, o lado encostado à terra, o lado que precisa, de uma forma ou outra, ser protegido. Na verdade, somos todos meio ouriços, somos todos meio casca agressiva, seja para nos mantermos vivos e dignos, seja pelo medo de sofrer mais ainda. A questão fica por conta da falta de equilíbrio de alguns: muitos se disfarçam em espinhos que se transformam em um deles. É o verso de Fernando Pessoa revivendo, reafirmando uma verdade: “Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. / Quando quis tirar a máscara, / Estava pegada à cara. / Quando a tirei e me vi ao espelho, / Já tinha envelhecido.” Esse é o perigo, uma vida se enrolando, se fazendo bola de espinho, se fazendo máscara, para depois descobrir-se velho, descobrir-se azedume e impossibilidade de retorno. Não que tudo tenha que ser sempre doçura, candura ou uma vida rimada no sentimentalismo de Poliana, mas algum bom senso, algum espaço para entregas, para confianças, para o uso delicado e poético da vida temos que ter.

Viver é ter sempre esse cuidado de não deixar que a máscara se apegue à cara, que o espinho não atravesse a pele e atinja algo dentro. Mas também tem o outro, afinal existimos em função do outro. Ninguém é uma ilha, já anuncia a séculos o clichê, somos comunidade, e isso nos ouriça, isso nos faz enrodilhar muitas vezes. Viver é conseguir, de uma maneira ou outra, que o enrodilhamento, que o espinhamento, não seja total, não seja para todo o sempre, não seja a única maneira que temos de contato com a pele do outro. As defesas são justificáveis, o problema se estabelece quando defesas se transformam em ataque, ou quando o ataque é a melhor defesa, dai as relações se estremessem, daí somos apenas espinhos nas bocas dos cães, nada mais. Toda a delicadeza, toda a maciez se perdeu, pois deixamos nos outros apenas nossa casca, nossa máscara, nossa dor apegada à cara. Mostrar o rosto verdadeiro, mostrar o dentro do corpo, muitas vezes, é um ato bem mais corajoso e libertador do que nos protegermos com os espinhos, mesmo que para isso tenhamos que baixar as defesas, tenhamos sair um pouco da zona de segurança e invadirmos, frágeis e delicados, o desconhecido.

(Texto publicado com a autorização do autor)


sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Morre o escritor Condorcet Aranha

CONTRATEMPO


Condorcet Aranha
29.01.1940 - 19.11.2010

Não sei quando começou o tempo,
Sequer, o tempo que ele durará,
Mas, eu preciso perceber, em tempo,
Qual é o tempo que terei, no tempo,
Para fazer o que pretendo, a tempo.

Não vou passar aqui somente um tempo,
Na infinidade que o tempo tem?
Se aproveitar o tempo e me tornar saudade,
No coração aberto de um outro alguém,
Deixo-o na vida para novo tempo.

Então somando todos nossos tempos,
Se, prosseguirmos a tornar saudade,
Nossas saudades, formarão um tempo,
Por tanto tempo que nem sei contar,
Porque por certo não terei mais tempo.

Então, enquanto não me acaba o tempo,
Até ficar apenas como uma saudade,
Vou me manter no máximo do tempo,
Para aumentar a soma das saudades,
Salvo aconteça, assim... Um contratempo!

Se não deixar meu tempo no antetempo,
Vou consumi-lo até nos entretempos,
Para curtir milhões de passatempos.
Mas, se eu partir no “raio” de um destempo,
Serei saudade, apenas, do meu tempo.



(Poema extraído de sua página pessoal em Blocos Online, onde poderá ser homenageado com a leitura de seus poemas)


terça-feira, 26 de outubro de 2010

MARES, LÁGRIMAS E OUTRAS ÁGUAS

Blocos Online lança edição 11 da Antologia Saciedade dos Poetas Vivos, em comemoração aos quatro anos do projeto na Internet



Poetas participantes:

Abilio Pacheco, Adelaide Amorim, Beatriz Amaral, Clevane Pessoa, Darlan Alberto T. A. Padilha/Dimythryus, Efigênia Coutinho, Flavio Gimenez, Flávio Mota, Gerson Ney França, Graça Graúna, Jania Souza, Jayme Benassuly, Luiz Otávio Oliani, Marlene Andrade Martins, Nazilda Corrêa, Paola Rhoden, Rosy Feros, Tere Tavares

Convidado
especial: Ferreira Gullar

sábado, 16 de outubro de 2010

Celebrando Vinícius de Moraes

Vinícius de Moraes completaria, em 19 de outubro, 97 anos de muita poesia


Soneto do amor total
Vinícius de Moraes

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Wagner Tiso e Milton Nascimento - FAZENDA

Fazenda

Milton Nascimento
Composição: Nelson Angelo



Água de beber
Bica no quintal
Sede de viver tudo
E o esquecer
Era tão normal que o tempo parava
E a meninada respirava o vento
Até vir a noite e os velhos falavam coisas dessa vida
Eu era criança, hoje é você, e no amanhã, nós
Água de beber
Bica no quintal, sede de viver tudo
E o esquecer
Era tão normal que o tempo parava
Tinha sabiá, tinha laranjeira, tinha manga rosa
Tinha o sol da manhã
E na despedida,
tios na varanda, jipe na estrada
E o coração lá

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

SE LIGA BRASIL - Manifesto em Defesa da Democracia

Entre os que já assinaram o documento estão Hélio Bicudo, Carlos Velloso, José Arthur Gianotti, Ferreira Gullar e Carlos Vereza




SÃO PAULO - Num momento em que o governo do presidente Lula se dedica a investidas quase diárias contra a liberdade de informação e de expressão e critica a imprensa por divulgar notícias sobre irregularidades na Casa Civil, um grupo de personalidades de diferentes setores - entre eles juristas, intelectuais e artistas - decidiu lançar um “Manifesto em Defesa da Democracia”, cuja meta é “brecar a marcha para o autoritarismo”.

O ato público será realizado nesta quarta-feira, 22, ao meio dia, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo.

Entre seus signatários estão o jurista Hélio Bicudo, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Velloso, os cientistas políticos Leôncio Martins Rodrigues, José Arthur Gianotti, José Álvaro Moisés e Lourdes Sola,o poeta Ferreira Gullar, d. Paulo Evaristo Arns, os historiadores Marco Antonio Villa e Bóris Fausto, o embaixador Celso Lafer, os atores Carlos Vereza e Mauro Mendonça e a atriz Rosamaria Murtinho.

“Em uma democracia, nenhum dos poderes é soberano”, diz o manifesto em sua abertura. Nos seus 14 parágrafos, ele aponta desvios e abusos do governo federal. “Hoje, no Brasil”, diz o texto, “os inconformados com a democracia representativa se organizam para solapar o regime democrático.” Mais adiante, considera “inconcebível” que “uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita”.

‘Ameaça concreta’. O historiador Marco Antônio Villa, da Universidade Federal de São Carlos e um dos signatários do manifesto, decidiu aderir porque vê nos recentes atos do governo “uma ameaça concreta” à democracia no País. “É uma preocupação geral com o que está ocorrendo no País, e hoje (ontem) o Lula mais uma vez reforçou”, disse, em referência às críticas do presidente à imprensa, feitas em viagem ao Tocantins. “O manifesto é uma síntese dessas preocupações.”

Caso um eventual governo Dilma consiga eleger três quintos do Congresso, advertiu, “eles conseguirão fazer mudanças constitucionais a seu bel-prazer. E se você tiver uma parte da legislatura formada por ‘Tiriricas’, corremos sério risco. Nada melhor para um Executivo autoritário do que um Legislativo desmoralizado”. Para Villa, “é preciso de um grito de alerta”. Ele acredita que “há muitas pessoas que comungam dessa preocupação” e que o manifesto funcionará como forma de agregá-las. “Não se pode achar que ataques, ameaças e agressão fazem parte da política”, diz.

O cientista político Leôncio Martins Rodrigues, que também subscreveu o documento, avalia que as ameaças à democracia têm origem na postura do presidente, opinião também manifestada por José Arthur Gianotti. “Lula não pode misturar as funções de homem de Estado e líder partidário. Ele também é meu presidente, independentemente do meu partido”, afirma Gianotti.

Leia abaixo o texto do manifesto:

"SE LIGA BRASIL"

"MANIFESTO EM DEFESA DA DEMOCRACIA

"Em uma democracia, nenhum dos Poderes é soberano.

"Soberana é a Constituição, pois é ela quem dá corpo e alma à soberania do povo.

"Acima dos políticos estão as instituições, pilares do regime democrático. Hoje, no Brasil, os inconformados com a democracia representativa se organizam no governo para solapar o regime democrático.

"É intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais.

"É inaceitável que a militância partidária tenha convertido os órgãos da administração direta, empresas estatais e fundos de pensão em centros de produção de dossiês contra adversários políticos.

"É lamentável que o Presidente esconda no governo que vemos o governo que não vemos, no qual as relações de compadrio e da fisiologia, quando não escandalosamente familiares, arbitram os altos interesses do país, negando-se a qualquer controle.

"É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais nem mesmo em fingir honestidade.

"É constrangedor que o Presidente da República não entenda que o seu cargo deve ser exercido em sua plenitude nas vinte e quatro horas do dia. Não há "depois do expediente" para um Chefe de Estado. É constrangedor também que ele não tenha a compostura de separar o homem de Estado do homem de partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro do cargo, numa manifestação escancarada de abuso de poder político e de uso da máquina oficial em favor de uma candidatura. Ele não vê no "outro" um adversário que deve ser vencido segundo regras da Democracia , mas um inimigo que tem de ser eliminado.

"É aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses.

"É repugnante que essa mesma máquina oficial de publicidade tenha sido mobilizada para reescrever a História, procurando desmerecer o trabalho de brasileiros e brasileiras que construíram as bases da estabilidade econômica e política, com o fim da inflação, a democratização do crédito, a expansão da telefonia e outras transformações que tantos benefícios trouxeram ao nosso povo.

"É um insulto à República que o Poder Legislativo seja tratado como mera extensão do Executivo, explicitando o intento de encabrestar o Senado. É um escárnio que o mesmo Presidente lamente publicamente o fato de ter de se submeter às decisões do Poder Judiciário.

"Cumpre-nos, pois, combater essa visão regressiva do processo político, que supõe que o poder conquistado nas urnas ou a popularidade de um líder lhe conferem licença para rasgar a Constituição e as leis. Propomos uma firme mobilização em favor de sua preservação, repudiando a ação daqueles que hoje usam de subterfúgios para solapá-las. É preciso brecar essa marcha para o autoritarismo.

"Brasileiros erguem sua voz em defesa da Constituição, das instituições e da legalidade.

"Não precisamos de soberanos com pretensões paternas, mas de democratas convictos."





sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Mea Culpa


Antero de Quental
18.04.1842 - 11.09.1891


Não duvido que o mundo no seu eixo
Gire suspenso e volva em harmonia;
Que o homem suba e vá da noite ao dia,
E o homem vá subindo insecto o seixo.

Não chamo a Deus tirano, nem me queixo,
Nem chamo ao céu da vida noite fria;
Não chamo à existência hora sombria;
Acaso, à ordem; nem à lei desleixo.

A Natureza é minha mãe ainda...
É minha mãe... Ah, se eu à face linda
Não sei sorrir: se estou desesperado;

Se nada há que me aqueça esta frieza;
Se estou cheio de fel e de tristeza...
É de crer que só eu seja o culpado!


segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Poesia de Cleide Canton

Sinto vergonha de mim!


Cleide Canton
"De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem- se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto" .
(Ruy Barbosa)



Sinto vergonha de mim!
Por ter sido educadora de parte desse povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.

Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
Que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o "eu" feliz a qualquer custo,
buscando a tal "felicidade"
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.

Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos "floreios" para justificar
atos criminosos,
a tanta relutância
em esquecer a antiga posição
de sempre "contestar",
voltar atrás
e mudar o futuro.

Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo
que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...

Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.

Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!


Assistam ao vídeo em http://www.youtube.com/watch?v=ERTmvOll87s

sábado, 4 de setembro de 2010

Dose Certa


Antonio Manoel Abreu Sardenberg


Na dose certa todo amor é terno,
Faltando afeto ele se torna fraco,
Quando é escravo vira um inferno,
Se é rotina passa a ser um caco!

Na dose certa todo amor é pleno,
Se não é tudo, então é quase nada,
É gota d’ água vinda do sereno
No finalzinho de uma madrugada.

Na dose certa o amor é vida,
É o alimento que impulsiona o mundo,
É o oásis que nos dá guarida
O sentimento que nos cala fundo.

Na dose certa parece um gigante
Que a cada instante cresce mais e mais,
Não pára nunca, vai sempre adiante,
O amor assim é troço bom demais.


(Poema publicado com a autorização do autor)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Seleção para Saciedade dos Poetas Vivos 11




Blocos Online seleciona autores para a Antologia "Saciedade dos Poetas Vivos 11", a última a ser lançada em 2010.

Poetas interessados em participar do processo de seleção devem escrever para Leila Míccolis: blocos@blocosonline.com.br



sábado, 21 de agosto de 2010

Música Surda, qualidade musical




Voz & Violões & Poesia

Composições, arranjos e violões: Antonio Jardim, Artur Gouvêa, Eduardo Gatto
Voz: Andréia Pedroso
Participação especial do ator Rogério Magalhães Castro

Estreando novo repertório na poesia de Adriano Alves, Diego Braga, Luís de Camões e Florbela Espanca.

Ouça e veja o Música Surda

Província:
http://www.youtube.com/watch?v=0w6R2ElSGD4

Música Surda - A poesia da canção
e musAbsurda Produções Poéticas

...é tempo de ouvir...
Música Surda

Paisagens sonoras e texturas poéticas

acesse: http://www.letras.ufrj.br/musicasurda





domingo, 15 de agosto de 2010

Hino à Nossa Senhora do Patrocínio de Araras


De autoria de Márcia Sanchez Luz, o soneto celebra a elevação da Igreja Matriz de Araras à Sacrossanta Basílica Nossa Senhora do Patrocínio.

A cidade, localizada no interior de São Paulo, está em festa.


sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Afinidade, de Arthur da Távola


Dedico este texto de Arthur da Távola às pessoas especiais em minha vida, como forma de agradecimento por existirem em meu caminho, tornando plena de razões minha existência.

Márcia Sanchez Luz


A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
O mais independente.

Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,
as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação,
o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto em que foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando a vida.

É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo sobre o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.
Ter afinidade é muito raro.

Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois
que as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples
e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.

Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos
fatos que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavra.
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.

Afinidade é sentir com.
Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo.
Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios.

Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar.
Ou quando é falar, jamais explicar, apenas afirmar.

Afinidade é jamais sentir por.
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.
Compreende sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para poder questionar.
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.

Só entra em relação rica e saudável com o outro,
quem aceita para poder questionar.
Não sei se sou claro: quem aceita para poder questionar,
não nega ao outro a possibilidade de ser o que é, como é, da maneira que é.
E, aceitando-o, aí sim, pode questionar, até duramente, se for o caso.
Isso é afinidade.
Mas o habitual é vermos alguém questionar porque não aceita
o outro como ele é. Por isso, aliás, questiona.
Questionamento de afins, eis a (in)fluência.
Questionamento de não afins, eis a guerra.

A afinidade não precisa do amor. Pode existir com ou sem ele.
Independente dele. A quilômetros de distância.
Na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar.
Há afinidade por pessoas a quem apenas vemos passar,
por vizinhos com quem nunca falamos e de quem nada sabemos.
Há afinidade com pessoas de outros continentes a quem nunca vemos,
veremos ou falaremos.

Quem pode afirmar que, durante o sono, fluidos nossos não saem
para buscar sintomas com pessoas distantes,
com amigos a quem não vemos, com amores latentes,
com irmãos do não vivido?

A afinidade é singular, discreta e independente,
porque não precisa do tempo para existir.
Vinte anos sem ver aquela pessoa com quem se estabeleceu
o vínculo da afinidade!
No dia em que a vir de novo, você vai prosseguir a relação
exatamente do ponto em que parou.
Afinidade é a adivinhação de essências não conhecidas
nem pelas pessoas que as tem.

Por prescindir do tempo e ser a ele superior,
a afinidade vence a morte, porque cada um de nós traz afinidades
ancestrais com a experiência da espécie no inconsciente.
Ela se prolonga nas células dos que nascem de nós,
para encontrar sintonias futuras nas quais estaremos presentes.
Sensível é a afinidade.
É exigente, apenas de que as pessoas evoluam parecido.
Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam do mesmo grau,
porque o que define a afinidade é a sua existência também depois.

Aquele ou aquela de quem você foi tão amigo ou amado, e anos depois
encontra com saudade ou alegria, mas percebe que não vai conseguir
restituir o clima afetivo de antes,
é alguém com quem a afinidade foi temporária.
E afinidade real não é temporária. É supratemporal.
Nada mais doloroso que contemplar afinidade morta,
ou a ilusão de que as vivências daquela época eram afinidade.
A pessoa mudou, transformou-se por outros meios.
A vida passou por ela e fez tempestades, chuvas,
plantios de resultado diverso.

Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças,
é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas,
quantos das impossibilidades vividas.

Afinidade é retomar a relação do ponto em que parou,
sem lamentar o tempo da separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas a oportunidade dada (tirada) pela vida,
para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais,
a expressão do outro sob a forma ampliada e
refletida do eu individual aprimorado.

domingo, 25 de julho de 2010

Remendos

Comemorando o Dia Nacional do Escritor


Noturno - Joan Miró


Muitos são pequenos excertos
de grandes paixões
de poemas que falam
o que minha boca cala.

Muitos são pequenos remendos
de poucos retalhos
que consegui obter
a duras penas.

Poucos são grandes acertos
que me dispus a contar
nas noites de insônia
nos dias chuvosos
nublados
turvos
frios.


© Márcia Sanchez Luz


quinta-feira, 1 de julho de 2010

Soneto de Fernando Pessoa


Fernando Pessoa, por Almada Negreiros


Súbita mão de algum fantasma oculto
Entre as dobras da noite e do meu sono
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
Da noite não enxergo gesto ou vulto.

Mas um terror antigo, que insepulto
Trago no coração, como de um trono
Desce e se afirma meu senhor e dono
Sem ordem, sem meneio e sem insulto.

E eu sinto a minha vida de repente
Presa por uma corda de Inconsciente
A qualquer mão noturna que me guia.

Sinto que sou ninguém salvo uma sombra
De um vulto que não vejo e que me assombra,
E em nada existo como a treva fria.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago

Morre o escritor português José Saramago, Prêmio Nobel da Literatura 1998


Poema à boca fechada



José Saramago
(16.11.1922 – 18.06.2010)


Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

(In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Gaivotas

© João Justiniano da Fonseca



Imagem: Google


As gaivotas que voam no meu céu
enquanto desce a tarde, vagarosa,
asas de sonho, penas de esperança,
têm a imagem da fé que tudo vence...

Quero que longa seja a tarde e more
a cair no poente, que as gaivotas
quando é noite recolhem-se no alpendre,
porque nas trevas só morcegos voam.

Durai, minhas gaivotas, mais um tempo,
nesse vôo de tardinha lenta e mansa,
mantendo-me a ilusão indefinida.

Quando deixardes de voar, por certo,
a tristeza me invade o coração,
mata o sonho e a esperança, a própria fé...



(Soneto enviado por email pelo autor)

domingo, 6 de junho de 2010

PLÁGIO, PLÁGIO!


- Pega ladrão!

Poderia começar este texto falando sobre caçar plagiadores, mas estes nem precisam ser caçados. Afinal, eles são a espécie mais desprezível e mais fácil de ser encontrada no universo virtual. Pessoas inescrupulosas, dotadas de completa falta de imaginação, têm como único trabalho digitar “control c” e “control v” (leia-se “copiar” e “colar”) e sair pela internet se promovendo com criação alheia, isto é, nomeando-se autor da mesma. Isto é plágio, crime previsto pela Lei n.º 9.610, de 19/02/98 (Lei dos Direitos Autorais). E, como em toda lei, existem punições para quem as burla.

O que um autor leva dias, meses ou anos para produzir acaba nas mãos de delinquentes intelectuais. E o que isto tem de diferente de qualquer outro roubo? Nada! Roubo é roubo, não importa por qual meio ele se efetivou. O resultado é o mesmo: o direito de um cidadão é violado. Combater essa prática é obrigação de todo leitor consciente, de todo autor autêntico.

Foi o que ocorreu com o livro "O Carro de Boi", escrito em 1997 por Caio Martins e publicado pela Editora Romus Artes Gráficas, copiado na íntegra e postado na web por sujeitos sem nenhum escrúpulo nem ética. Abaixo, menciono a obra original e o "link" para a página. Vale a pena conhecer. Para os plagiários, somente há que dizer: - Pega ladrão!

© Márcia Sanchez Luz
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O CARRO DE BOI (1)
Caio Martins

Tem carro de boi, e tem carreta. Carreta, ou carroção, tem roda raiada e é muda, não canta. Carro de boi tem roda inteira, e canta para se ouvir de léguas, seja gaita, pombo ou baixão . É coisa de sertanejo, é uma saudade doída de um tempo onde se ia devagar, mas havia mais tempo para ver e entender as coisas. Saber de carro de boi, é mexer com magia, é entender a alma da madeira e do ferro, da terra e do fogo, da água e do ar... [...]

(1) Veja o texto completo em:

http://caiovmartins.blogspot.com/p/o-carro-de-boi.html

domingo, 30 de maio de 2010

Morre o Poeta Paulo Monti

Paulo Monti partiu em viagem eterna, mas jamais será esquecido.

Obrigada, Poeta. Sua voz estará sempre presente neste meu soneto!

domingo, 2 de maio de 2010

Eclosão


El Giro - Leonid Afremov

Nessa estrela vou pousar
de bailarina:
da cortina de teu palco
vou surgir
enfeitando o filme antigo
que fascina
tua lembrança, lamparina
a emergir.

© Márcia Sanchez Luz

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Quimera


© Regina Coeli


À tarde, quando o sol em despedida
Beija a faceira lua, apaixonado,
Quisera estar com ela, lado a lado,
Amando-a sem chegada nem partida.

A lua, meigamente enlanguescida,
Se mostra ao sol em branco perolado;
Quisera tê-lo em céu bem estrelado
E só a ele amar por toda a vida...

Destino traiçoeiro, quem traçou?
Negar amor a amantes no infinito
Somente nega quem jamais amou...

Ardeu paixão o sol, raiando em grito
Na luz que a amada lua então gestou,
Parindo o seu luar, manso e bonito!


(Soneto publicado com a autorização da autora)

terça-feira, 13 de abril de 2010

Divulgação Leila Míccolis




CAMPANHA DE BLOCOS ONLINE

Depois de oito anos sendo mantido pela iniciativa privada, em 2010 Blocos Online não encontrou uma empresa que o patrocinasse, obrigando-nos, desta forma, a recorrer a você, nosso leitor.
Ficaremos pelos próximos cinco meses — até agosto — recebendo doações a fim de conseguir fundos necessários para a manutenção do portal, medida que, de certa forma, é também uma forma de verificar a importância de um dos maiores portais de poesia do Brasil para você.
Não estipulamos valor prévio para os depósitos, que deverão ser feitos através da conta corrente: 16300-7 Agência 2143 Banco Bradesco (nº 237), em nome de Blocos Editora, Assessoria, Consultoria e Produções Artística Ltda., CNPJ 30123830/0001-77. Solicitamos que o comprovante seja escaneado e nos enviado por e-mail para:
blocos@blocosonline.com.br
Caso o doador queira, poderemos emitir nota fiscal em favor do contribuinte ou de sua empresa.
Certos de que poderemos contar com o apoio de todos, inclusive na divulgação desta campanha — o link desta página é:
http://www.blocosonline.com.br/home/conteudo/campanhablocos.php — agradecemos.


CHAMADA PARA SACIEDADE DOS POETAS VIVOS DIGITAL - VOL. 10

Após nove antologias com o maior sucesso, tendo o respaldo de nomes como Affonso Romano de Sant'Anna, Lêdo Ivo, Thiago de Melo, Antonio Carlos Secchin, Geraldo Carneiro, Glauco Mattoso, Márcia Sanchez Luz, Alice Ruiz, Renata Pallottini, entre outros, a SACIEDADE DOS POETAS VIVOS, vol. 10, já está começando a ser organizada por Leila Míccolis, reunindo 17 poetas de qualidade, também com o intuito de ajudar a manter os onerosos custos do portal Blocos Online. O tema desta vez será BEIJOS (valendo assuntos afins: lábios, beijo roubado, beijo de amor, beijo de Judas, beijo de amizade, etc.). Os interessados devem escrever de imediato para Leila, no e-mail: blocos@blocosonline.com.br

sábado, 3 de abril de 2010

Expurgo



Transborda em mim
a alma de poeta
que, mesmo em festa,
apura o que não presta.

© Márcia Sanchez Luz

domingo, 28 de março de 2010

Ney Matogrosso - "Viajante" (TV Manchete, 1984)

Ney Matogrosso é uma das pessoas mais doces que tive o privilégio de conhecer.
Agora há pouco passei no "Prosa e Verso de Boteco", site de Caio Martins (do qual faço parte), lendo uma prosa poética da Zenaide Negrão, intitulada "Viajante" e não resisti à vontade de publicar este vídeo.
Zê, obrigada por provocar em mim o desejo de revisitar Ney e seu Viajante!

Márcia Sanchez Luz

quarta-feira, 24 de março de 2010

AS VOZES DA POESIA



© Lílian Maial


Que venham todas essas vozes da poesia,
Infernizar-me e blasfemar em meus ouvidos!
Pois que o poeta é um mensageiro da agonia,
E é nessa voz que há o despertar de ecos feridos.

Se tu te calas, calo em mim a melodia,
que os nossos verbos, sem as pautas, são perdidos.
E um simples verso no silêncio bastaria
para avivar esses poemas esquecidos.

Todas as rimas fazem coro na sarjeta,
alardeando que o poeta inexpressivo
perdeu o prumo, o calendário e a vil caneta.

Assim me calo, como tu, sem ter amor,
sem essa voz que acalmaria a borboleta
que se debate sem ouvir a voz da flor.


(Soneto publicado com a autorização da autora)

domingo, 21 de março de 2010

A poesia de Humberto Rodrigues Neto


PALHAÇO TAMBÉM CHORA



© Humberto Rodrigues Neto


Ambos jovens, aos palcos desta vida
subimos, cada qual com seu papel;
vivendo ora a comédia divertida,
ora um enredo de ilação cruel.

Interpretamos cada riso ou pranto
apaixonada e primorosamente,
e ao longo do sucesso que era tanto,
a vida foi andando para a frente!

Mas eis que um dia, entre um ato e outro
do amor o enredo a declinar começa;
sais de um roteiro e te colocas noutro,
rendida ao charme do vilão da peça!

De principal ator eu regredi
a este fantoche que tu vês agora;
finda a comédia é que eu compreendi
por que é que às vezes um palhaço chora!


(Poema publicado com a autorização do autor)


domingo, 7 de março de 2010

Celebrando o Dia Internacional da Mulher


Inalienável Veto



Mero traço que no peito abraça,
abarca em brisas soltas teu sorriso,
mas em vão sequer protege meu achado
das rudes ventanias que destronam a paz!

Quero a semente que te aleita a vida!
Em forma de sustento, o alento é puro.
Se na semeadura teu lago é mais fundo,
que então teus grãos possam nutrir meus dias.

Secreto a ti meus mais parvos idílios!
Caprichos tolos, porém verdadeiros.
E na pujança de meus devaneios
espero a noite que me acorde os sonhos.

Estreitas brumas impelem-me a alma
a transgredir preceitos tão abjetos!
Pois que de tola já me basta a crença
de ser em mim inalienável veto.


© Márcia Sanchez Luz


domingo, 28 de fevereiro de 2010

Morre José Mindlin



08/09/1914 - 28/02/2010

Morre o bibliófilo e acadêmico José Mindlin, quinto ocupante da cadeira 29 da Academia Brasileira de Letras. Ele foi eleito em junho de 2006, na sucessão de Josué Montello.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Poema de Alberto Cohen


Calidoscópio


© Alberto Cohen


As palavras secaram em minha boca
e há tanta coisa, ainda, por dizer...
É o fim, talvez, de um tempo de poesia,
entressafra nos campos do sonhar.
Quando perdi o meu calidoscópio,
a profusão de imagens e de cores
que o menino me deu para espalhar?
Foi no dia em que eu soube que as estrelas
não eram manteúdas do luar,
e os vaga-lumes, brilhando na noite,
apenas pareciam pedacinhos
da luz que elas deviam ter no olhar.
Foi quando entendi que não eras fada,
princesinha encantada, Rapunzel,
e meus poemas pouco mais que tinta
que a caneta escorreu sobre o papel.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Poema de Caio Martins


Elegia Melancólica


© Caio Martins


Não sabes inventar flores.
Apenas existe em ti
a certeza de carregar absurdos
diante destas interrogações todas.

Máscaras grotescas te espiam
dançando em cima do muro.

Tocar violão, ler jornal
andar na rua gritando
música de carnaval...
Adianta, tudo isso?

Mistérios sorridentes
acenam a cada papel que o vento leva.

Pois que leve então o vento
todas as revoltas, todas as violências
que deixares escritas com fel.

Não chegarás a viver os tempos
onde não haja mais negócios
sempre negócios, amigos à parte.

Não chegarás a viver o tempo
de sentar na rua e cantar
por gosto, bobeira, vontade.

Dentre poucas coisas
(complexos, medos
traumas, desejos
teu relógio e a certeza da morte)
carregas em ti a certeza
de não saber inventar flores...

Tudo o mais não é impossível.



(Poema publicado com a autorização do autor)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Celebrando Tom Jobim



Águas de Março



Tom Jobim
25.01.1927 – 08.12.1994


É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol

É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira

É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira

É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão

É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma conta, é um conto
É um pingo pingando, é uma ponta é um ponto

É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada

É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã

São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração.



quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A Poesia de Luiz de Miranda



Amor de amar


Luiz de Miranda


Dispo-me dos pudores da forma
coloco meu ouvido no teu peito
e deixo-me levar
na emoção de quem procura
teu rosto na sombra
e te purifica te revela
te orvalhece te incendeia
e comparece em ti
com estas palavras
trazidas da alma

Se chegarei à poesia
não o sei
apenas escrevo estas linhas na água
para brilhar no céu
um dia
recolhidas pelas nuvens
ou espremidas a longo véu das chuvas

Agora desliza minha mão
a auscultar a memória da tua pele
a viver nela o tempo impensado
dos navios perdidos
viver na tua pele
todos os naufrágios
e renascer na palma
do amanhecer
Agora a vida é renascer
sempre em ti

Um pensamento fugidio
às festas da aurora
é teu nome em meu coração
a romper o silêncio
um risco de luz
transfigurado em tua face
é meu guia
e seguirei
cuidadoso
como um cão
e seguirei teu cheiro
pela noite imensa da paixão

Seguirei
até que te convertas
na própria tinta das palavras
e venhas a escrever
desde esta janela de espanto
que é o mundo
luz redonda de infinito

Seguirei contigo
ainda que estejas longe
e te desfaleças
noutra solidão
noutro minuto de esperança
e te consideres ausente
como são ausentes as distâncias
mas te chamarei baixinho
para te estelar
nas proximidades mais íntimas do amor
Para te estelar
na longitude dos espaços
das geografias
que o amor tem outro calendário
outro itinerário
E és tu, namorada,
que me dás a música dos versos
seu rebentar na carne



Do livro Amor de Amar (1986)

(Poema publicado com a autorização do autor)


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Poema de Rizolete Fernandes



Casa inteira

Rizolete Fernandes


A casa
ainda inteira
passeia
sobre as águas baldias
da enchente
dos últimos dias

Recorrente desfile
que a todo-poderosa
a qualquer momento
sem aviso prévio
com porte pago
em módica aceitação
entrega em domicílio

Indigesta ceia
à nossa vontade
alheia


(Poema publicado com a autorização da autora)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Terremoto no Haiti mata Zilda Arns




A médica pediatra e sanitarista Zilda Arns Neumann, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, morreu em consequência do terremoto que abalou o Haiti nesta terça-feira. Ela estava lá em missão humanitária.
Aos 75 anos, era também coordenadora nacional da Pastoral da Pessoa Idosa.

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